sexta-feira, 27 de maio de 2016

Relato de Parto do Bernardo - Parte II

Para ler a parte I, clique aqui!



 Continuação:

   Como eu ainda estava meio molhada do banho, não consegui distinguir a cor do líquido amniótico. Percebi claramente que poderia ser a bolsa por que senti que era algo bem quentinho e eu estava acabando de sair de um banho frio…

   Essa notícia foi uma injeção de ânimo para mim. Eu sabia que, além do fato de minha pressão ter alterado um pouquinho, outro fator que preocupava minha equipe era o fato de que eu já estava com 41 semanas e um dia de gestação. Não há nenhum problema nisso, claro, mas a questão era que os pequenos riscos da minha pressão estavam se somando aos pequenos riscos de uma gravidez prolongada… e é aí que morava o problema.

   Assim, pensei que quando eu contasse às minhas enfermeiras que a bolsa havia estourado eu poderia continuar em casa, afinal o trabalho de parto ia começar e não precisaríamos nos preocupar com os riscos de chegar a 42 semanas. Não foi assim! Aos riscos já mencionados só se somou mais um: Com a bolsa rota e sem previsão de início do trabalho de parto, o caminho ficava mais livre para possíveis infecções.

   Minha equipe ia sugerir que eu me internasse no dia seguinte para fazer uma indução, mas, diante do cenário de bolsa rota, a recomendação foi a de que eu fosse para o hospital ainda naquela noite. Deitei na cama para que elas apalpassem a minha barriga e avaliassem o Bernardo. Mal tive tempo de me levantar, saí correndo para o banheiro. Mais líquido amniótico! E, dessa vez, muuuuuuito mais! É muita esquisita essa sensação.

   As enfermeiras analisaram o líquido e identificaram a presença de mecônio (o que era normal naquela altura do campeonato), mas isso a princípio não era um problema, porque o líquido estava bem fluido. Liguei para a minha doula meio atordoada e pedi que ela conversasse com uma das enfermeiras. Seria possível que isso estivesse realmente acontecendo? Estava angustiada porque meus planos estavam indo por água a baixo.

   Sonhei com meu parto domiciliar. Preparamos cada detalhe, aluguei o oxigênio, higienizei e esterilizei as fraldinhas de pano que iam tocar a pele do meu filho, comprei uma lona de plástico para a piscininha… Todo esse ideal tão acalentado por mim não aconteceria mais, e isso dói aceitar. Doeu também saber que eu teria de ir para o hospital sem estar em trabalho de parto e me preparar para a tão temida indução com ocitocina sintética, que faz os mais bravos mortais verem estrelas em poucos minutos.

   Preparei minhas bolsas, jantei e esperei minha doula chegar. Fomos com calma para o hospital e chegamos lá por volta das 23h. Uma das enfermeiras da minha equipe nos encontrou lá e passou o meu caso para o médico do plantão, o dr. A. Até hoje não sei exatamente se cheguei ao hospital com 0 ou 1 cm de dilatação, mas o médico disse que meu colo estava fechado e que não havia mecônio no líquido amniótico. As alterações de pressão que relatei foram solenemente ignoradas, talvez porque para um ambiente hospitalar não fossem assim tão relevantes.

   Fiz minha primeira cardiotocografia e, de vez em quando, eu já estava começando a sentir algumas contrações, mas bem de leve. Dormi na enfermaria com meu marido por volta das 3 da madrugada. Na manhã seguinte, resolvi me exercitar para tentar acelerar o processo e ver se o trabalho de parto engatava. Caminhei na varanda do hospital e fui marcando o tempo do intervalo entre as contrações, que estava bem irregular. 10 min, 12 min, 5 min (!)...20 min (?)… enfim.

   Aqui cabe uma pequena explicação para quem talvez não esteja entendendo muito bem. A vida real não é como na TV, em que logo que a bolsa rompe a grávida sai correndo desesperada para o hospital e dá à luz o filho 5 minutos e 3 gritos depois. O rompimento da bolsa não significa o início do trabalho de parto. A grande maioria das mulheres entra em trabalho de parto em até 24 horas depois que a bolsa rompe, mas para outras esse tempo pode chegar a 48 e, em alguns casos, até 72 horas.

   Mas..o que é trabalho de parto? Podemos dizer que a gestante está em trabalho de parto quando suas contrações vem em curtos intervalos regulares. Algo em torno de 3 em 3 minutos, por exemplo. Contrações irregulares são os chamados pródromos, e podem ocorrer até semanas antes do trabalho de parto em si. É o corpo se preparando para o grande acontecimento que está por vir, e não há nada de estranho nisso.

   Infelizmente muitas mulheres não sabem disso, e mal começam as primeiras contrações, imediatamente vão para a maternidade. É daí que surgem as famosas indicações de cesarianas por “falta de dilatação”. Ora, se não se espera o tempo necessário para que o trabalho de parto comece, o mais natural é que não haja dilatação ainda.

   Além disso, quando essas gestantes chegam ao hospital, podem ficar muito ansiosas. A pressão de “ter que entrar” em trabalho em até X horas, e muitas vezes sem poder se alimentar ou caminhar livremente, faz com que fiquem nervosas, o que pode atrasar ainda mais as coisas.

   Voltemos ao meu relato. Estamos na manhã do dia 28 de março, dia em que eu estava particularmente inclinada a desejar que meu filho nascesse. Quando soube que meu filho provavelmente nasceria em março, quis muito que fosse no dia 19 (São José) ou 25 (Anunciação), que são festas pelas quais tenho particular devoção para mim.

   Passaram essas datas, entretanto, e nada do meu Bernardo querer sair do quentinho da barriga. Quando me vi tendo de ir ao hospital fiz uma breve pesquisa e descobri que 28 de março era também uma data muito especial: a ordenação de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei! Isso me deixou animada, mas mal sabia eu que o molequinho só nasceria dia 29 (!).

   Me vejo sendo chamada para a primeira avaliação com a médica responsável pela enfermaria. “Suas contrações não estão fortes o suficiente” e “Você só tem 2 cm de dilatação” foram os dados considerados para o veredito: Ela queria me encaminhar para a indução. Isso era algo que eu não queria de jeito nenhum, afinal eu ainda tinha (estatisticamente) muitas chances de entrar em trabalho de parto naturalmente nas próximas horas, sem precisar passar pelas dores tão fortes que o hormônio sintético me traria.

   Argumentei que eu ainda não tinha 18 horas de bolsa rota, o que imaginei ser o máximo que o hospital esperava antes de indicar indução. A médica começou a me dizer que induzir não era tão ruim assim e que ela mesma tinha passado por isso. “Seu colo está favorável. Não será preciso iniciar a indução com misoprostol, poderá começar direto com a ocitocina”, consolou a dra. Perguntei se eu poderia optar por não induzir ainda, afinal acreditava que o protocolo do hospital me amparasse para tal. “Tenho que fazer o meu papel, vou te indicar para o médico de plantão. Lá você conversa com ele”, disse ela. Lá fui eu.

Continua...

6 comentários:

  1. Bárbara, quem disse a você que a ocitocina faz o trabalho de parto ser mais dolorido?
    Eu tive parto normal e a ocitocina diminuiu a dor e acelerou o processo com a graça de Deus. Eu optei por um parto com anestesia já que tinha que pagar pelo anestesista de qualquer forma. Mas a dor do trabalho de parto (pelo que li até agora, você não entrou em trabalho de parto) trava suas pernas e queima os seus ossos como se estivessem quebrando. Isso é muito antes de você ser induzida ao parto.
    Até porque o seu corpo já está produzindo ocitocina, a sintética só acelera o processo e te ajuda a dor não é da sintética é do trabalho de parto em si. Ou seja, a pessoa sente a dor de qualquer jeito, pode ser em menos tempo ou em tempo maior. Indução não é ruim, eu digo por experiência própria e parto natural só é legal se não precisar de fórceps ou manobra de Christeler. Mas cada caso é um caso. No meu foi necessário a manobra eu não tinha conversado sobre isso e nem lembrava disso infelizmente.

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    1. Cris, obrigada pelo seu comentário!
      É muito bom poder saber um pouco mais da história do nascimento da sua pequena.
      Você me perguntou quem me disse que a ocitocina faz o trabalho de parto mais dolorido... Bem, eu li muitos relatos de parto antes do meu. Na grande maioria deles, as mulheres que receberam indução com ocitocina descrevem que foi uma experiência muito dolorosa. O hormônio sintético parece iniciar de forma muito rápida as contrações, de forma que parece que já se começa com um nível forte de dor.. e esse nível só vai aumentando. O hormônio natural da ocitocina, que é liberado pelo próprio corpo, faz com que esse processo seja mais gradual e demore mais para que as dores fortes cheguem. Assim, quando a dor forte chega, o corpo já está mais preparado.
      De fato, um parto com manobra de Christeler e Fórceps é muito ruim. É por isso que essas práticas são consideradas como obsoletas e qualificadas como intervenções desnecessárias.

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    2. Olá! Gostando muito do seu relato! Blog da Cris, tenho que dizer que você foi muito agraciada rsrsrs eu tive um parto induzido, colocaram um comprimido só e começou umas colicas leves.. depois de 10h colocaram a ocitocina sintetica, e no exato momento comecei a quase pirar de dor, contrações ja começaram de 3 em 3min... muita dor... e foram 14 horas de muita dor muita dor, e nada de progressao no trabalho de parto, estacionei em 5 cm em todas essa horas, quase surtando de dor todo esse tempo, sem intervalos entre as contrações... acabei numa cesária. Isso faz 9 meses. Estou gravida novamente, de 6 semanas... Espero muito ter um parto normal, mas não tenho nenhuma pretensão de aceitar ter o parto induzido novamente.. nem pensar...

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  2. Oi Bárbara. Estou adorando seu relato. Eu estava com 39 semanas e 2 dias quando minha bolsa se rompeu, ainda de madrugada. Como orientação da minha medica, fui direto para o hospital. Estava com contrações irregulares assim como você descreveu. Mas não sentia dor alguma (muito parecido com você na foto). Estava feliz e ansiosa pela chegada do Pedro. Minha medica chegou ao hospital as 11:30 e as contrações já tinham parado a pelo menos 3 horas. Ela me examinou e eu não tinha dilatado nada. Eu havia combinado com ela que meu parto seria normal, porém pra mim não haveria problema com a indução, que ela poderia fazer uso do hormônio sintético. Enfim, o que ela me disse e que seria muito arriscado, que o bebê corria risco de infecção já que minha bolsa havia se rompido a umas 7 horas atrás. Enfim...o resultado foi (pra minha total decepção) uma cesariana.

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  3. Oi Bárbara. Estou adorando seu relato. Eu estava com 39 semanas e 2 dias quando minha bolsa se rompeu, ainda de madrugada. Como orientação da minha medica, fui direto para o hospital. Estava com contrações irregulares assim como você descreveu. Mas não sentia dor alguma (muito parecido com você na foto). Estava feliz e ansiosa pela chegada do Pedro. Minha medica chegou ao hospital as 11:30 e as contrações já tinham parado a pelo menos 3 horas. Ela me examinou e eu não tinha dilatado nada. Eu havia combinado com ela que meu parto seria normal, porém pra mim não haveria problema com a indução, que ela poderia fazer uso do hormônio sintético. Enfim, o que ela me disse e que seria muito arriscado, que o bebê corria risco de infecção já que minha bolsa havia se rompido a umas 7 horas atrás. Enfim...o resultado foi (pra minha total decepção) uma cesariana.

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