sexta-feira, 4 de março de 2016

Economia e família


Eu vivi em uma família laissez faire, na qual cada membro da família corria atrás dos seus interesses. Constatei, para minha surpresa, que a família laissez faire não é muito feliz. Uma família que se une na base de contratos tácitos e implícitos torna-se menos estável que uma família unida por algo tão vago e intangível como o amor.
Quando estudei as ideias do liberalismo econômico, de uma economia de mercado funcionando sem travas, eu fiquei cativada pela sua lógica, consistência e simplicidade. Fiquei muito animada em aplicar essas ideias na minha vida pessoal. Agradava-me pensar numa vida pautada em cima da ideia de que todos têm o direito de fazer na vida o que querem.
Não sou contra o liberalismo econômico. Ele não só está vivo, como creio que é o único que funciona bem. A questão é outra. Se posso aplicá-lo na conduta pessoal. Digo isso, porque tentei aplicar os princípios do mercado como minha filosofia para a minha vida. O livro que acabo de escrever: Love and Economics: Why the Laissez Faire Family Doesn’t Work é uma reflexão sobre a minha experiência.
A alternativa de uma família laissez fairenão é uma família autoritária. O contrário de uma família centrada no eué uma família centrada no dar-se. Longe de diminuir ou comprometer o indivíduo, dar-se aos demais membros da família é uma atitude que enriquece o indivíduo.
Uma sociedade livre precisa da família porque a família faz um trabalho que nenhuma outra instituição consegue fazer. Uma família transforma um bebê cheio de impulsos, desejos e emoções em uma pessoa adulta capaz de viver em sociedade. A família ensina a criança a confiar, a cooperar, a controlar desejos. As instituições políticas, sociais e o mercado não conseguem sobreviver a menos que a maioria da população adquira essas competências. Quero repetir: Nossa sociedade democrática, livre, depende de que haja pessoas que saibam se comportar. Nós não nascemos adultos, autônomos, racionais, capazes de correr atrás dos nossos interesses, capazes de fazer e cumprir contratos e outros acordos, capazes de defender nossos direitos. Nascemos como bebês indefesos, necessitados de tudo.

Existe um substituto para a família?

Duas instituições se candidatam.
Da direita, vem a voz de que o Mercado pode ser a solução. Pode-se contratar alguém para cuidar dos nossos filhos.Babás, professores, tutores, psicólogos, etc. E isso acaba acontecendo porque é conveniente. Os pais acabam terceirizando a educação dos filhos porque pensam nos seus interesses e não no que é melhor para uma criança.
Da esquerda, vem a voz de que o Estado pode ser a solução. Programas e instituições públicas podem educar nossos filhos: escolas, clubes, creches, cartilhas educacionais, etc. Se o Estado conseguir fazer funcionar bem tudo isso – o que não tem sido frequente – o máximo que proporciona a uma criança é um cuidador pago para ensinar e ser gentil, mas nunca um membro da família que ama e se dedica a ela.
A economia tem sido uma ciência social bem-sucedida porque se concentra em coisas que são verdadeiras: os seres humanos são egoístas e têm a capacidade de raciocinar. Mas é igualmente verdadeiro que temos a capacidade de amar. Muito de nosso discurso público apresenta essas duas grandes realidades da condição humana, a razão e o amor, em conflito. A direita favorece o cálculo, a abordagem fria, dura, do intelecto: o homem é essencialmente um Conhecedor. A esquerda favorece uma abordagem morna, distorcida, emocional do coração: o homem é essencialmente um Amante. No entanto, a esquerda, em sua forma mais extrema, nos deu o Estado impessoal frio e sua burocracia como resposta aos problemas sociais. A direita, na sua forma mais extrema, nos deu a irracionalidade de tentar reduzir o homem à soma de suas necessidades corporais. Os dois se equivocam.
Precisamos de família, onde aprendemos a pensar e onde aprendemos a amar. E a linguagem da família é entrega, generosidade, dar-se.
 JENNIFER ROBACK MORSE HOOVER INSTITUTION, STANFORD UNIVERSITY



Artigo do blog: O Correio Chegou.


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