quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Relato de Parto do Bernardo - Parte III (Final)



Para ler a parte II clique aqui.
Para brigar comigo por eu ter demorado tanto a publicar a parte final do relato clique aqui.

Fui com meu marido para o outro andar, onde ficavam as salas de parto e o centro cirúrgico. Conversei com o plantonista, o dr A. (o mesmo que tinha me recebido na noite anterior para a avaliação inicial). Foi com ele que uma das minhas enfermeiras obstetras conversou para passar o meu caso. Ele foi muito gentil e concordou em aguardar mais tempo para que eu tivesse a oportunidade de entrar em trabalho de parto.

Seria necessário, entretanto, iniciar o antibiótico quando eu completasse 18h de bolsa rota. Combinamos que na troca de plantão, que seria em torno das 6 da tarde, conversaríamos novamente para decidir o próximo passo. Eu ainda tinha tempo suficiente para não precisar da indução e resolvi me agarrar a essa esperança.

A partir de então fiquei caminhando pelo hospital e fiquei esperando. Esperando...esperando... e nada. Ainda estava na fase de pródromos (a que me referi na parte II deste relato). Me vi em uma das situações que mais quis evitar ao longo de todo o planejamento do nascimento do Bernardo: Estar "presa" dentro de um hospital pressionada pelo relógio para entrar em trabalho de parto. Sempre quis poder esperar esse momento em casa, com tranquilidade. A ansiedade só atrasa as coisas!

Em um dado momento comecei a me questionar... Não sabia se estava fazendo a coisa certa. Afinal, se eu não entrasse em trabalho de parto logo, eu teria que induzir e encontrar um monstro, digo, a ocitocina sintética. Ou, o que para mim ainda era pior, "entrar na faca", que é como algumas pessoas se referem à cesariana. Que fique claro: Não tenho nada contra a cesariana. É uma cirurgia maravilhosa e que já salvou muitas vidas! O problema é que ela vem sendo utilizada sem razões proporcionais. Uma intervenção cirúrgica desnecessária é algo bastante problemático.

Nesse tempo de espera fiquei ansiosa, e até mesmo angustiada. eu diria. Me vi em uma das situações que mais desejei evitar durante a gestação: Estar dentro de um hospital lutando contra o relógio enquanto esperava o começo do trabalho de parto. Continuamos na expectativa, mas nos perguntávamos se ter ido para o hospital antes do trabalho de parto começar teria sido mesmo a melhor opção. Sabíamos que a ansiedade gerada por essa situação não favorecia o início do trabalho de parto. Eu preferiria ter ficado em casa relaxando ao invés de estar limitada a caminhar na varanda de um hospital vestida com uma camisola de paciente.

Meu marido esteve sempre ao meu lado e, apesar dessa situação de indecisão por que passamos, decidimos seguir as recomendações das pessoas a quem confiamos o parto do nosso filho. Como diz o ditado, "Quem obedece não erra" e, tanto a minha obstetra quanto as enfermeiras obstetras nos indicaram claramente que lá era o lugar em que devíamos estar. Mesmo contrariados, mesmo nos sentindo mal com aquela situação, ponderamos juntos, choramos juntos e ficamos firmes juntos. Claro, com a graça de Deus que nunca nos faltou.

Resolvi, então, continuar caminhando para estimular as contrações e ia anotando a frequência delas no celular. Continuavam sem um ritmo bom. Eu ainda estava nos pródromos... Recebi uma visita dos meus pais e da minha doula, que fez uma massagem nos meus pés para estimular. Infelizmente não adiantou. Não me lembro bem como passamos o restante do dia, mas o tempo passa de uma forma muito esquisita quando estamos numa situação como essas.

Foi anoitecendo e nada de nos chamarem para conversar com o médico. Já passava da hora do plantão e nada. Cerca de 21h, se não me falha a memória, conversamos com o médico e ele nos indicou a indução. Ele compreendia que queríamos muito um parto da forma mais natural possível, mas também nos lembrou que as vezes a natureza mata. Aceitamos o parecer dele e ficamos aguardando uma vaga nas salas de parto, que estavam todas ocupadas.

Fui dormir, mas lembro que antes disso aferiram minha pressão e estava 14 por 9. Estranho é que esse resultado da aferição de pressão simplesmente sumiu e não foi colocado no meu prontuário (!), mas eu me lembro bem. Por volta de umas 23h fomos chamados para subir para o andar das salas de parto. Esperei minha doula chegar lá e, enquanto isso, continuamos aguardando a liberação da sala. Acho que só consegui entrar mesmo lá para meia noite.

A médica plantonista fez um toque, me avaliou e considerou que, como o colo do útero estava favorável, não seria necessário induzir com misoprostol (comprimido), mas poderíamos partir direto para a ocitocina sintética. Ela me deixou na sala com meu marido e doula. Comecei a fazer alguns exercícios na bola de pilates (aliás não tinha bola no meu quarto! Minha doula viu uma que não estava sendo usada em outra sala e trouxe). Em um dado momento me senti cansada e resolvi deitar na maca. Foi então que senti algo como um "ploft!" e mais líquido amniótico escapou (bastaaante!). Era o restante que ainda não tinha saído quando a bolsa rompeu na sexta a noite.

Nesse líquido foi identificada a presença de mecônio (o que é de se esperar em uma gestação de 41 semanas). Por conta disso, a médica achou por bem fazer uma cardiotocografia antes de iniciar a indução. Isso era por volta de umas 2 ou 3 da manhã. Na verdade, não sei bem porque não iniciaram a indução antes, porque ficamos um bom tempo esperando. Há males que vem para bem.

Fiquei uns 40 minutos nessa cardiotoco e a médica observou que o bebê estava bradicardizando, dipando, ou algo do tipo. Não entendo muito dos termos técnicos, mas o fato é que fiquei bastante aflita. Quando vinha a contração era como se o coração do bebê espaçasse muito as batidas. Se o normal era tum-tum tum-tum tum-tum, o do meu filho estava tum--------tum.....tum--------tum..... e depois regularizava quando passava a contração. Como ele recuperava bem o ritmo cardíaco, a obstetra decidiu que era possível iniciar a indução.

Esses momentos na sala de parto foram os de mais dor e mais glória. Tudo aquilo que eu tinha sonhado para o momento do trabalho de parto foi sendo colocado em prática. Eu estava com as luzes apagadas, velinhas acesas e escutando canto gregoriano. Para estragar a "vibe", incomodou o fato de que no meu chuveiro não tinha água quente. Além disso, quase toda vez que eu queria ir ao banheiro (o que aliás era muito frequente) o aparelho que bombeava o hormônio parava de funcionar. Acho que era mal contato. O fato é que tínhamos de chamar a enfermeira a toda hora para consertar até o ponto em que o próprio Marcos aprendeu o mecanismo...

Algum tempo depois da cardiotoco, 1 hora talvez, surge um médico: Dr. Y. Ele vinha auscultar o coração do bebê (algo que, diga-se de passagem, não tinha muito porquê, afinal a prática do hospital era auscultar de 2 em 2 horas se não me falha a memória, e eu tinha feito uma cardiotoco há bem pouco tempo). Após a ausculta, que estava boa, Dr. Y observou o mecônio no lençol branco sobre a bola de pilates (o que também não era surpresa alguma para a equipe plantonista, afinal eu tinha feito a cardiotoco justamente por isso) e disse que precisaria fazer um toque.

Nesse momento ele fez uma cara assustada e, se não me engano, disse algo como "meu Deus!". Tentou encontrar as palavras certas para me informar rapidamente que, embora eu desejasse muito um parto natural, estava com uma clara indicação de cesárea de urgência: um prolapso de cordão. Meu marido não sabia bem do que se tratava naquele primeiro momento, mas eu sim. Tinha estudado bastante sobre as indicações de cesárea e, por isso mesmo, comecei a chorar. O médico me tranquilizou e disse que, pela ausculta, o bebê estava bem. Ia dar tudo certo.

O hormônio da indução foi retirado e fui transportada para a o centro cirúrgico. Soube depois que tudo foi organizado muito rapidamente para a cirurgia, com direito à equipe se comunicando através de rádios para deixar tudo pronto. Tudo aconteceu como num piscar de olhos... Recebi a anestesia e nem tive tempo de ter medo dela! Em menos de 15 minutos, a partir do momento em que o prolapso fora diagnosticado - o Bernardo nasceu.

Com APGAR 9/9 a vitalidade dele estava ótima.  Uma das coisas mais curiosas de tudo isso foi que, algum tempo antes, tinha ouvido falar mal do dr. Y, como se ele fosse um médico que - ao contrário da conduta geral do hospital - enxergava motivos de cesariana onde não havia. Quando soube que ele ia assumir o plantão fiquei preocupada, mas foi justamente ELE que diagnosticou o prolapso do Bernardo a tempo. Incrível, não?

Meu filho não veio direto para o meu colo como eu gostaria, mas entendo que pela urgência da cesárea talvez a equipe tenha julgado mais prudente avaliá-lo bem primeiro. Ouvi certos rumores na sala de cirurgia sobre colírio, mas naquele momento eu já não queria discutir nada...

No pós-operatório a enfermeira colocou o Bernardo ao meu lado, deitado na maca, e indicou que eu deveria amamentá-lo. Acho que naquelas circunstâncias ela não teria mesmo muito tempo para me orientar nesse sentido, mas o fato é que amamentar pela primeira vez pode ser difícil - ainda mais sem ajuda, deitada e com os movimentos limitados pelos efeitos da anestesia.

Como não consegui, a enfermeira disse que ia dar para o Bernardo uma fórmula (!). Eu pedi que me desse a oportunidade de tentar de novo, e ela assim o fez. Não consegui. Como ele nasceu bem grandão e gordinho (57,7 cm e 4,5 kg!), ficou com a glicose baixa por não ter se alimentado logo e teve que ser direcionado para a Unidade Intensiva. 

Isso foi bem chato, mas pelo menos lá na UI as enfermeiras tiveram toda a delicadeza de me ajudar a desbravar esse mundo da amamentação. Ao contrário da enfermeira anterior, que de certa forma chegou a sugerir que a culpa da glicose baixa era minha, por não ter querido dar logo a fórmula...

Bernardo nasceu num domingo de Ramos (benedictus qui venit!) e foi para o meu quarto na terça feira, se não estou enganada. Recebi a orientação de amamentá-lo exclusivamente, mas caso julgasse necessário poderia pedir a fórmula. Lembro que houve uma noite, talvez de terça pra quarta, em que ele não parava de chorar e não queria pregar os olhos. Achei que meu leite não estava sendo suficiente e pedi a fórmula, mas era só fralda suja haha (como não pensei nisso!).

Em contrapartida, em outra noite ele dormiu muito bem, tão bem que não amamentei de madrugada e, com isso, mediram sua glicose de manhã estando ele em jejum e, como evidentemente estava baixa, tivemos de ficar mais um dia no hospital.

Enfim, quinta fomos para casa e esse foi o fim - ou o início - da nossa bonita aventura!



[Desculpem a demora em terminar esse relato. Espero que o da Laura saia com mais antecedência... Sim, estou grávida! Estamos com 25 semanas e rumo a um VBAC, se assim Deus quiser].