segunda-feira, 28 de julho de 2014

Matrimônio e Doação

Dizia o filósofo francês Gustave Thibon que "O amor nupcial autêntico acolhe o ser amado não como um Deus, mas como um dom de Deus". Todas as dádivas divinas nos são dadas apenas como meios de nos aproximarmos mais do fim último do homem, a vida eterna. Assim, o amado é um dom de Deus orientado para a nossa santificação como o ilustra de maneira belíssima Dom Marcos Barbosa em seu Cântico Nupcial:

E, quando eu fechar os olhos para a grande noite,
sejam tuas as mãos que hão de fechá-los.

E, quando os abrir para a visão de Deus,
possa contemplar-te como o caminho
que me levou, dia após dia,
à fonte de todo amor.

O Matrimônio é, por excelência, a entrega mútua de um homem e uma mulher que querem ser, um para o outro um dom - e por isso se doam. Como Cristo ofereceu na Santa Missa Seu corpo à Sua esposa, a Igreja, também o marido deve oferecer-se seu próprio corpo à esposa no ato conjugal. É por isso que se diz que a cama é o altar da igreja doméstica.

O “grande mistério”, que é a Igreja e a humanidade em Cristo, não existe dissociado do grande mistério expresso na realidade de “uma só carne” do matrimônio e da família. 
(São João Paulo II na Carta às Famílias, 19)

O sexo, longe de ser algo sujo, é algo glorioso, já que permite ao casal amar como Deus ama. Assim como a Santíssima Trindade consiste em um só Deus e três pessoas, o casal deixa de ser dois para ser uma só carne. Christopher West, um renomado teólogo especialista na Teologia do Corpo nos recorda que

De todas as formas que Deus usa para revelar sua vida e seu amor ao criar o mundo, diz João Paulo II que o matrimônio – celebrado e consumado pela união sexual – é a mais fundamental.

(Good news about sex and marriage)

Ah, e isso tudo sem falar nos frutos das relações entre os casais: os filhos! A geração da vida confere ao casal a imensa alegria de tornarem-se participantes da criação divina e contribui também - e muito!- para que cresça o amor do esposos, que passarão a não concentrar-se apenas em si mesmos, mas olharão juntos em uma direção comum, como disse Cormac Burke em seu livro Amor e Casamento:

O amor entre os cônjuges encolhe-se e desaparece se os dois permanecem demasiado tempo com os olhos fixos um no outro, para que cresça, tem de contemplar outros olhos - muitos outros olhos, nascidos desse mesmo amor -, e ser por eles contemplado.

Já que estamos falando de amor, o amor dos esposos passa, no matrimônio, a ser orientado pela intimidade que cria a comunhão entre as pessoas. É o amor o responsável por "causar" o casamento e também é o Amor o seu fim último. Para encerrar, proponho refletirmos sobre esse amor e sobre o fato de que, como diz o filósofo alemão Dietrich Von Hrildebrand,

O amor entre o homem e a mulher não é uma invenção romântica dos poetas, mas um fator extraordinário na vida humana desde o início da história da humanidade, a fonte da felicidade mais intensa na vida humana terrestre. Dele diz o Cântico dos Cânticos: ‘Se por amor um homem desse todos os bens da sua casa, haveria de desprezá-los como a bagatelas.’ Com efeito, só este amor é a chave para uma compreensão da verdadeira natureza do sexo, do seu valor e do mistério que personifica.
(Filosofia do relacionamento entre homem e mulher)


2 comentários:

  1. Bárbara, que belo e precioso texto! Só atento que para o trecho "Santíssima Trindade consiste em um só Deus e duas pessoas" o correto seria "Santíssima Trindade consiste em um só Deus e três pessoas". Que Jesus e Maria Santíssima cubram de bençãos seu casamento!

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    1. Obrigada Leidiane, já foi corrigido!
      Nem sei como escrevi isso.. TRIndade já pressupõe três.. haha
      Acho que eu estava com o número 2 na cabeça por conta do ''casal'' ao qual me referi em seguida.
      Beijos!

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